Quando Gilberto Tomazoni chegou à JBS, em 2013, a companhia faturava R$ 75 bilhões por ano, um patamar que já a colocava na liderança da indústria brasileira da carne. Oito anos depois, essa é apenas a receita trimestral. Maior empresa privada do país – com faturamento anualizado de R$ 300 bilhões -, a companhia da família Batista reportou ontem um lucro líquido de R$ 2 bilhões no primeiro trimestre, já sinalizando um dividendo superior a R$ 3 bilhões em 2022, novo recorde.
A JBS pagou R$ 2,5 bilhões na última semana em dividendos relativos aos resultados do ano passado, mas o desempenho dos primeiros três meses de 2021 é um forte indicativo de que a distribuição de proventos no próximo ano crescerá, disse Guilherme Cavalcanti, o CFO da JBS.
Como reduziu a exposição cambial – nas dívidas inter companhia ou com terceiros -, a alta do dólar deixou de machucar o balanço. Ainda que sem efeito no caixa, a variação cambial havia tirado um naco relevante do bottom line do ano passado. No primeiro trimestre de 2020, o impacto negativo do câmbio superou os R$ 8 bilhões. No segundo trimestre, foram mais R$ 2 bilhões.
“No primeiro trimestre, o dólar saiu de R$ 5,19 para R$ 5,70 e nosso impacto de variação cambial foi de só R$ 100 milhões”, comparou o executivo. Com isso, a JBS saiu de um prejuízo líquido de R$ 5,9 bilhões, nos primeiros três meses do ano passado, para um lucro da ordem de R$ 2 bilhões.
Em 12 meses, o lucro da JBS chegou a R$ 12,5 bilhões. Considerando que o dividendo mínimo é de 25%, já seriam mais de R$ 3 bilhões. “O lucro tende a subir”, frisou Cavalcanti, lembrando que o yield ao investidor bateu 7,9% em 2021, considerando dividendos e recompra de ações – entre janeiro e abril, a JBS recomprou R$ 3,8 bilhões em ações, o que ajuda a sustentar a market cap. As ações da companhia, que está avaliada em R$ 78 bilhões, subiram quase 36% neste ano.
Cenário positivo
O cenário positivo é puxado pelo momento favorável nos EUA – a oferta abundante de gado e a demanda aquecida por carne também beneficiou a rival Marfrig. O dólar apreciado do primeiro trimestre também impulsiona o faturamento da JBS. No primeiro trimestre, a receita líquida do grupo aumentou 33,2% na comparação anual, atingindo R$ 75,2 bilhões. Desse total, a operação brasileira (Seara e Friboi, basicamente) foi responsável por apenas 24%. A JBS USA Beef, que abriga também os ativos no Canadá e Austrália, reportou uma receita líquida de R$ 30,4 bilhões.
As margens também melhoraram, apesar das turbulências no Brasil – a inflação de custos corroeu o resultado, com a Friboi entregando uma margem Ebitda de apenas 2%. No consolidado, porém, os EUA mais do que compensaram. Na comparação anual, a margem Ebitda da JBS subiu 2,2 pontos, chegando a 9,1%. O Ebitda da empresa aumentou 75,8%, totalizando R$ 6,8 bilhões.
Em termos de geração de caixa, o resultado operacional não conseguiu evitar a sazonal queima do primeiro trimestre, quando os pagamentos a fornecedores e a recomposição de estoque nos EUA ficam concentrados. Além disso, a companhia também desembolsou R$ 1,1 bilhão para cumprir os acordos firmados no ano passado com o Departamento de Justiça (DoJ) americano e o órgão antitruste.
Assim, o fluxo de caixa livre ficou negativo em R$ 3,5 bilhões, mas a tendência é que o resultado seja compensado ao longo dos próximos trimestres. Cavalcanti lembrou que, no acumulado em 12 meses, a companhia teve um fluxo positivo de R$ 15 bilhões. O índice de alavancagem ficou em 1,76 vezes, acima de 1,56 vezes de 31 de dezembro. Mas o indicador ainda está abaixo da estrutura de capital que mais maximiza valor – com um alavancagem de 2 a 3 vezes. Por isso, a JBS pode continuar com sua agressiva política de recompra de ações, disse o CFO.