O encerramento da tendência altista em maio é algo bastante atípico para o setor, uma vez que, historicamente, esse período é caracterizado pela elevação das cotações, em decorrência da redução sazonal da produção no Sudeste e no Centro-Oeste.
Contudo, em 2023, as cotações foram pressionadas pela combinação de três fatores: consumo enfraquecido, aumento de importações e queda nos custos de produção.
O consumo de lácteos seguiu enfraquecido em maio, limitado pelo menor poder de compra da população e pelos preços dos lácteos ainda em patamares mais elevados do que no ano anterior. Considerando-se a média de janeiro a maio, os preços do UHT, da muçarela e do leite em pó negociados entre indústrias e canais de distribuição no estado de São Paulo estiveram 11,5%, 8,1%, 8,3%, respectivamente, maiores em 2023 frente aos de 2022.
O aumento das importações de lácteos é um fator importante nesse contexto porque, além de o volume estar superior ao de anos anteriores, os preços externos estão mais competitivos que os nacionais – o que pressiona as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia. Dados da Secex mostram que, em maio, as importações somaram mais de 208,8 litros em equivalente leite, altas de 42% frente a abril e de expressivos 219% em relação a maio/22. As compras realizadas entre janeiro e maio deste ano estão três vezes maiores que as registradas no mesmo período de 2022. Essa quantidade representa aproximadamente 9,1% da captação formal de leite cru, tendo como base os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE, de 2022. Vale destacar que, no mesmo período do ano passado, as importações representaram apenas 2,9% da captação nacional.
Além disso, é preciso ressaltar que os preços de outras commodities também têm caído, o que impacta nos custos de produção do leite. A pesquisa do Cepea mostra que, em maio, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,3% na “Média Brasil”, influenciado pela retração nos preços do concentrado. Com isso, a relação de troca tem estado mais favorável ao produtor: em maio, foram necessários 25,8 litros de leite para a compra de uma saca de milho, melhora de 14,4% no poder de compra frente ao mês anterior e de 25,9% em relação a maio/22. Esse contexto incentiva investimentos na produção, o que tem feito a oferta de leite se recuperar mesmo na entressafra.
Em maio, o Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) avançou 1,5% na Média Brasil. Esse incremento na captação se explica sobretudo pela melhoria nos custos de produção. Mesmo com o inverno seco no Sudeste e no Centro-Oeste nesta época do ano, na média dessas regiões, a captação industrial amostrada pelo Cepea ficou praticamente estável de abril para maio, com elevação de 0,3%. Já no Sul do País, a captação cresceu, em média, 2,4% no período. Assim, a expectativa dos agentes de mercado é de que o volume produzido entre maio e julho possa ser menos afetado pela variação sazonal.
Nesse contexto, a desvalorização do leite no campo ocorre em consonância com o movimento de queda que acontece ao longo de toda a cadeia produtiva. No caso dos lácteos (que vêm apresentando desvalorizações desde abril), a pesquisa do Cepea em parceria com a OCB mostra que, em maio, os preços médios do UHT, da muçarela e do leite em pó fracionado caíram 3,8%, 0,6% e 3,7%, respectivamente, no atacado paulista. Na comparação anual, os valores ficaram 1,1%, 1,7% e 1,3% abaixo dos registrados em maio/22, na mesma ordem. Já era possível observar, depois da segunda quinzena de abril, queda nos preços do leite spot e dos derivados lácteos. Em Minas Gerais, a média mensal do spot em maio recuou 16,6%, chegando a R$ 2,78/litro.