O Mato Grosso do Sul tem se destacado no cenário da pecuária nacional. A qualidade dos bovinos no estado é resultado de boas práticas, com foco especial em melhoramento genético e participação das propriedades em programas de bonificação, que valorizam a produção.
As fazendas visitadas pela equipe do Confina Brasil se destacam na aplicação de tecnologia e manejo sustentável, refletindo uma história centenária de desenvolvimento, que remonta à época da Guerra do Paraguai, e adaptação às demandas do mercado moderno.
Genética, produtividade e desempenho
Na Agropecuária Maragogipe, situada em Itaquiraí, por exemplo, destaca-se o melhoramento genético de ponta com a participação no programa DeltaGen, que foca no desenvolvimento de bovinos Puros de Origem (PO) Nelore e Angus F1.
O foco está na criação de animais CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção), que são rigorosamente avaliados e selecionados de acordo com critérios do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O processo envolve testes comparativos entre bovinos que identificam aqueles que se destacam em termos de produtividade e qualidade genética. O certificado ajuda pecuaristas a selecionar reprodutores superiores, contribuindo para o avanço genético do rebanho nacional e a melhoria da produção de carne bovina no país.
Os manejos adotados permitem abates precoces, por volta dos 13 meses, o que é muito desejado, já que o estado do Mato Grosso do Sul oferece bonificações aos produtores que entregam novilhos precoces aos frigoríficos.
Outro exemplo é o Confinamento Guaxumã, na Fazenda Lua Branca, em Iguatemi, que investiu em recria intensiva no cocho, comprando bovinos desmamados e confinando-os imediatamente, o que possibilita um giro mais rápido.
“Esse tipo de decisão é tomada para aproveitar a relação custo-benefício entre o preço do bezerro e do boi magro. Nos anos de 2023 e 2024, o mercado de reposição, especialmente para categorias mais jovens, atingiu os menores preços históricos, tornando esse investimento particularmente vantajoso”, explica a equipe de técnicos da Scot Consultoria.
Centenárias e inovadoras
Já a Fazenda Campanário, situada em Laguna Carapã, é uma propriedade icônica na pecuária brasileira: por ser centenária, ter uma rica história – que inclui ter sido propriedade de um príncipe polonês e cenário de novela – e por suas práticas modernas e sustentáveis.
A propriedade é um exemplo de sustentabilidade com sua produção de carne carbono neutro, adotando um sistema de pecuária intensiva que permite elevada taxa de lotação por hectare, manejo que reduz o tempo dos bovinos no pasto, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa.
Em Ponta Porã, a Fazenda Santa Virgínia, com mais de 150 anos, possui uma rica história que remonta à Guerra do Paraguai, sendo formada como parte dos esforços do governo brasileiro para povoar e sustentar a região durante o conflito.
Atualmente, utilizam uma estratégia de confinamento anual para os bovinos selecionados, enquanto os outros bovinos seguem para comercialização. A fazenda investe em melhoramento genético para aumentar a produtividade: inseminam novilhas super precoces, preparando essas fêmeas em confinamento para a reprodução, buscando um giro mais rápido e eficiente.
Novatas que acompanham as demandas do mercado
A Unidade Serrinha, do Grupo Jotabasso, iniciou suas atividades em 2023 e se destaca pelo alto padrão do gado confinado, mesmo com 80% da reposição proveniente da compra de terceiros. A qualidade dos bovinos permite ao Grupo participar de programas como Novilho Precoce de Mato Grosso do Sul, abatendo animais com cerca de 20 meses e atingindo rendimento de carcaça acima da média do estado. Além disso, os bovinos cumprem os critérios da Cota Hilton, possibilitando a exportação para a Europa.
Outra novata é a Fazenda Santa Maria, pertencente ao Grupo CFL Agro, confinando há um ano. Destaca-se pelo avanço tecnológico e pela gestão inovadora, sendo que já alcançaram importantes bonificações de programas de sustentabilidade e qualidade.
Participam, por exemplo, do programa Pantanal Sustentável, que incentiva práticas de manejo que preservam a biodiversidade do bioma, garantindo a produção de carne de maneira ambientalmente responsável e que oferece bonificações para bovinos criados na região.
Também, fazem parte do Pacto Sinal Verde, um protocolo cujo objetivo principal é padronizar as carcaças bovinas e garantir que a longo prazo seja possível atingir a meta de 100% do abate classificado, promovendo uma produção sustentável e fidelizando novos mercados; e também do Programa 1953 da Friboi, que requer a rastreabilidade do gado e o cumprimento de critérios específicos, incluindo a predominância de raças britânicas ou cruzamentos.
Em termos de inovação, a fazenda adota uma dieta mais quente para a fase de terminação, fornecidas pela Nutron. Com uma inclusão de apenas 4% de volumoso e 96% de concentrado, essa dieta permite uma alimentação eficiente.
Tecnologias que fazem a diferença: bioinsumos, telemetria e automação
Com propriedades que atuam na pecuária há muito tempo, modernização e tecnologia são destaques no Mato Grosso do Sul.
Na Fazenda Campanário, toda a frota de veículos, especialmente os utilizados no confinamento, é equipada com sistemas de telemetria que otimizam rotas e o uso de combustível, contribuindo para a redução de emissões de carbono. A propriedade se destaca pela produção e uso de bioinsumos, com a utilização na própria fazenda para o controle de pragas e melhoria da qualidade do solo.
Já o confinamento Guaxumã conta com sistemas automatizados, com distribuição de trato e monitoramento por tags, garantindo eficiência na gestão. Uma das tecnologias aliadas nesse trato é a utilização do caminhão distribuidor e misturador de ração da Casale, o Techbull. Utilizando telemetria, com acesso a diversos indicadores em tempo real, permite o monitoramento e controle, aumentando a agilidade, comodidade e segurança da operação.
Bem-Estar Animal como prioridade
O compromisso com o bem-estar animal é uma característica marcante das fazendas em Mato Grosso do Sul. As práticas implementadas garantem não apenas a saúde e o conforto dos bovinos, mas também refletem uma produção que valoriza o respeito à vida animal.
Um dos confinamentos, ao receber o gado, que muitas vezes enfrenta longas viagens, realiza um processo de aclimatação. Os bovinos passam por uma fase de reidratação com eletrólitos e minerais, além de uma dieta adaptativa em piquetes por cerca de 10 dias antes do confinamento de fato. O manejo prioriza técnicas de baixo estresse, sendo um deles o uso de bandeiras, promovendo um ambiente mais seguro e tranquilo para os bovinos.
A fazenda também possui um curral antiestresse, desenvolvido em parceria com a Currais Itabira, destacando-se no aspecto de manejo racional, incluindo treinamentos da equipe de manejo nesse tema, além de outras áreas, como a vacinação. A infraestrutura, embora ainda em desenvolvimento, inclui sistemas de drenagem eficientes, cobertura dos cochos e tratamento da água com algicidas e cloro.
Na Fazenda Santa Virginia, a inclusão de bosques de eucalipto nos piquetes oferece sombra natural, reduzindo o estresse térmico e melhorando o bem-estar dos animais. A estratégia de confinamento com manejo rotacionado dos piquetes garante alta produtividade e utilização eficiente do pasto.
Os funcionários recebem treinamentos contínuos em técnicas de manejo racional, promovendo uma produção adequada e que atendam às necessidades dos programas de bonificação, o que contribui para a qualidade e valorização da carne produzida.
Um olhar para os desafios
O setor pecuário sul-mato-grossense, apesar do forte posicionamento como produtor de carne de qualidade, enfrenta alguns desafios econômicos. Dados do Confina Brasil (2023) mostraram que o número de cabeças confinadas caiu 9,6% em relação ao ano anterior. Além disso, a desvalorização do boi gordo levou o estado a encerrar 2023 com um faturamento 10% menor em comparação a 2022, conforme informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Para enfrentar esse cenário, o Mato Grosso do Sul é um dos estados que mais utiliza ferramentas para lidar com a oscilação de preços no mercado do boi gordo, com 65,2% das propriedades adotando essas práticas, segundo o Relatório Confina Brasil de 2023.