O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Roberto Perosa, afirmou que as habilitações de 38 novos frigoríficos para a China podem gerar um incremento de cerca de R$ 10 bilhões na balança comercial brasileira ao ano.
O cálculo de incremento na receita das exportações leva em consideração o faturamento de uma planta de médio porte que exporta para a China, em torno de R$ 300 milhões anuais. Nesta terça-feira (12/3), os chineses anunciaram o aval para 34 frigoríficos e quatro entrepostos comerciais. A maior parte das empresas é de carne bovina.
“As habilitações geram emprego e renda no interior do país. Quem exporta contrata mais pessoas e favorece a economia local”, comentou Perosa.
Preços
O analista da consultoria Safras & Mercado Fernando Iglesias avalia que as novas habilitações colocam o Brasil em uma posição muito privilegiada enquanto fornecedor de proteína animal ao mercado chinês. Ao mesmo tempo, a China também dá uma sinalização clara ao mercado internacional de que quer seguir como compradora de carne dos brasileiros, embora não possa elevar o valor pago pelos produtos.
“A China deve ampliar volumes de carne bovina, principalmente, mas não a preços mais altos. O problema é que os preços internacionais da proteína estão deprimidos porque a moeda chinesa segue muito desvalorizada, o que acaba tornando as importações mais onerosas para o país”, explicou o especialista.
Este cenário força os importadores chineses a revisarem suas estratégias de compras, na tentativa de baixar os preços da tonelada adquirida.
Um segundo aspecto que contribui para o patamar menor das cotações é a ampla oferta de carne suína que há disponível no mercado chinês. A produção da China cresceu após o combate da peste suína africana (PSA) nos últimos anos, e acabou atingindo níveis ainda elevados atualmente.
Iglesias acredita que um efeito imediato das habilitações pode vir sobre a arroba do boi gordo, limitando um movimento de queda que vinha acontecendo. Entretanto, uma eventual reação da arroba pode não se estender por muito tempo.
“Não podemos esquecer que ainda é um ano de muita oferta de bovinos, e que o primeiro semestre, em especial a segunda metade dele, será de grande pressão”.
Capilaridade
O secretário do Ministério da Agricultura destacou que as autorizações da China ajudaram a diversificar as origens das exportações, já que a lista inclui plantas habilitadas em quase todas as regiões do Brasil. Apenas o Nordeste ficou de fora.
“Houve habilitação de grandes, médias e pequenas empresas, em todos os lugares do país, em Estados como Tocantins, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. Isso capilarizou bastante e ajuda a distribuir a demanda”, apontou Perosa.
Na visão do analista da Safras & Mercado, Mato Grosso do Sul, Pará, Rondônia e Mato Grosso foram os destaques entre os Estados contemplados. “Mato Grosso tem potencial para se tornar o maior exportador de proteína animal do Brasil novamente, posto que foi ocupado por São Paulo de 2019 para cá”, estima.
O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Paulo Mustefaga, disse que o número expressivo de habilitações reflete o “bom trabalho técnico e diplomático do atual governo para aumentar participação do mercado do Brasil na China, que é o mais importante do mundo”.
Apesar disso, ponderou ele, é preciso intensificar a atuação para que frigoríficos de outras regiões sejam habilitados. Mustefaga cita o caso do Nordeste, onde não há nenhuma planta autorizada a comercializar com a China até hoje.
“O Nordeste também tem pecuária. Maranhão e Bahia são Estados com setor forte, grandes rebanhos. Se falamos do ponto de vista de gerar oportunidade e riqueza, o governo tem que olhar para essas regiões menos favorecidas e para as empresas instaladas lá”, disse o presidente da Abrafrigo.
Ele ressaltou que todas as plantas habilitadas agora foram aprovadas por atender critérios técnicos estabelecidos pela China, mas que há espaço para impulsionar pequenos e médios frigoríficos de locais ainda sem habilitação.
Uma das medidas, segundo ele, é dar mais oportunidades para que essas empresas, com ajuda da ApexBrasil, possam participar de feiras e eventos internacionais onde são iniciadas tratativas e negociações de acesso ao mercado mundial.
“As novas habilitações são fruto de um intenso trabalho do setor em união com o Ministério da Agricultura e a ApexBrasil, que tem ampliado a participação brasileira no mercado internacional”, disse, em nota, Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec).
A China é o principal destino das exportações de carne brasileira. Em 2024, já foram comercializadas 192 mil toneladas de carne bovina in natura, segundo a entidade.