João Guilherme Sabino Ometto*
O agronegócio brasileiro, apesar de atingido pela falta de chuvas e as geadas, mantém altos índices de produção e segue contribuindo para o abastecimento interno, a manutenção da economia viva e o desempenho positivo da balança comercial. Suas exportações, em julho último, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), alcançaram o valor recorde de US$ 11,29 bilhões, 15,8% superior ao do mesmo mês do ano passado, quando foi de US$ 9,75 bilhões.
A elevação do índice de preços dos produtos do agronegócio brasileiro no mercado externo foi de 28,5% no período. Os seus cinco principais segmentos exportadores em julho foram: complexo soja (participação de 44,4%); carnes (18%); florestais (11,5%); parque sucroalcooleiro (8,2%); e cereais, farinhas e preparações (4,2%). No total, a participação das cinco áreas atingiu 86,2%.
Fato importante por trás desses números é o caráter sustentável do setor. Demonstração clara disso é que, nas últimas quatro décadas, nossa área plantada expandiu-se em 33%, mas a produção agrícola teve crescimento de 386%, com significativo ganho de produtividade, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, 61% da cobertura vegetal nativa do Brasil estão preservados, sendo que 11% do total encontra-se dentro das suas 5,07 milhões de propriedades rurais. Na nossa matriz energética, 42,9%, contra 13,8% na média mundial, provêm de fontes renováveis, sendo 17% referentes ao segmento sucroalcooleiro.
Também é interessante observar que, embora seja um grande exportador e protagonista do mercado mundial, nosso agronegócio mantém parte expressiva de sua produção no abastecimento interno, inclusive no tocante às mais disputadas commodities. Exemplo disso é a soja, que muitos pensam ser integralmente vendida a outros países, embora apenas 44% sejam comercializados externamente na forma de grãos in natura. Outros 7% compõem estoques e 49% destinam-se ao processamento agroindustrial, sendo 79% para a produção de farelo e 21%, óleo de cozinha e biocombustíveis. Com maior valor agregado, são exportados 52% dos farelos e 23% dos óleos (Fonte: Aprosoja).
Aspecto relevante do grau de sustentabilidade alcançado pelo agronegócio brasileiro é o crescente uso de bioinsumos. No mercado mundial, sua adoção pelos agricultores movimentou, em 2020, mais de US$ 5 bilhões, com um crescimento anual de 14,4%. A expectativa para 2025 é de que movimentem US$ 8 bilhões. No Brasil, a indústria de produtos biológicos faturou R$ 1,18 bilhão em 2020, com aumento de 75% em relação a 2019 (CropLife, 2021). Enquanto o incremento global é de 15% ao ano, em nosso país é 28%, quase o dobro, segundo pesquisa da Spark Smarter Decisions.
Os agricultores da União Europeia e Estados Unidos ainda são os que mais empregam defensivos biológicos para o controle de pragas. Porém, na América Latina, o Brasil é o líder (CropLife, ABCBio, 2021). A média global do registro desses produtos aumentou de três para 11 ao ano na última década. Em nosso país, precisa ser avaliado por três órgãos independentes: a Anvisa, para os riscos à saúde; o Ibama, pelo meio ambiente; e o MAPA, no que diz respeito à eficácia.
Em 2020, a pasta registrou 96 novos defensivos de baixo risco, o que significou expansão de 121% em relação a 2019. Segundo a CropLife, o desenvolvimento de um produto biológico demanda, em média, cinco anos e exige investimentos de US$ 7 milhões. Cabe destacar, também, o trabalho da Embrapa nessa área específica, que conta com 632 pesquisadores, atuando em 73 projetos.
O Programa Nacional de Bioinsumos, instituído pelo Decreto 10.375, de 26 de maio de 2020, coordenado pelo MAPA, tem contribuído para impulsionar a utilização de recursos biológicos no País. Estima-se que a área produtora que os utiliza aumente em 13%. Atualmente, já são 10 milhões de hectares. Outros 40 milhões são cultivados com bactérias promotoras de crescimento de plantas.
O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance / Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança Corporativa), acelerado pela pandemia, já estava presente no meio rural brasileiro mesmo antes da Covid-19. Consolida-se a cada ano, impulsionado pelo crescente caráter sustentável da produção nacional.
*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).