No ritmo atual, autossuficiência do país nessa frente virá em três ou quatro safras, aponta a Mercaris
Os Estados Unidos serão autossuficientes em produção de milho orgânico em três ou quatro safras se a demanda continuar crescendo nos patamares atuais, de 4% a 4,5% ao ano, e os prêmios pagos aos produtores continuarem elevados. É o que prevê a Mercaris, empresa de dados e análise que acompanha o mercado americano de orgânicos desde 2012.
Na temporada 2020/21, os EUA produziram 1,26 milhão de toneladas de milho orgânico, 9% mais que em 2019/20. A expectativa é que o volume alcance 1,5 milhão de toneladas (59,1 milhões de bushels) em 2025/26. O prêmio pago pelo grão chegou a US$ 9,08 o bushel em setembro, ante US$ 6,80 um ano antes.
A razão para esse forte aumento foi a redução das importações. “Com a escassez de contêineres e a elevação dos custos logísticos, ficou praticamente impossível importar milho orgânico”, disse ao Valor Tomas Garcia, diretor de parcerias da Mercaris, que vem ao Brasil participar do 1º Fórum Internacional de Grãos Orgânicos, que será promovido no dia 17 pela Folio, rede de produtores brasileiros de orgânicos idealizada pela Raiar Orgânicos.
Na safra passada, 63% do milho orgânico importado por empresas americanas foi produzido na Argentina, e 32% no Canadá.
Mas a cada ciclo a produtividade nos EUA cresce mais, assim como a área de cultivo. Em 2020/21, a produtividade média foi de 8,48 mil quilos por hectare (126,1 bushels por acre), ante 8,1 mil quilos em 2019/20. A estimativa da Mercaris é que a média alcance 8,85 mil quilos por hectare em 2025/26. Para efeito de comparação, a produtividade média das lavouras convencionais, que usam grãos geneticamente modificados, chega a 12,44 mil quilos.
A área, que chegou a 158,64 mil hectares (392 mil acres) em 2020/21, tem crescido entre 3% e 4% por safra e poderá alcançar 182 mil hectares em quatro anos. O cultivo de milho transgênico nos EUA cobriu 37,76 milhões de hectares no último ciclo, segundo dados do Departamento de Agricultura do país (USDA).
“A indústria de ovos e de frango orgânico é que tem impulsionado a produção, enquanto o consumo de leite orgânico está em queda no país com o avanço de alternativas plant based – que usam leguminosas como ervilhas e lentilhas na produção, e não soja ou milho”, disse Garcia. “Apesar do crescimento, ainda é um mercado de nicho”, afirmou ele.
Segundo o executivo, a indústria não consegue engajar os fazendeiros americanos, que têm, em média, entre 60 e 70 anos de idade e estão acostumados com a previsibilidade de contratos futuros do grão GMO. “Fazer orgânicos é bem mais caro. Além de a produtividade das sementes ser menor, e da infestação de pragas e doenças ser maior, o maquinário existente no país não atende às lavouras menores. Tudo isso, aliado ao fato de não haver mercado futuro e as compras serem concentradas em dois ou três player, dificulta a ascensão do orgânico”, afirmou.
O trabalho da Mercaris, segundo Garcia, é justamente tentar fomentar parcerias e levar mais dados ao mercado de orgânicos de forma a aumentar a previsibilidade. “Apenas produtores e empresas não conseguirão fazer esse mercado deslanchar. Por isso estamos tentando trazer fundos de investimento para injetar recursos. Nesse sentido, precisamos ter mais dados para mostrar o potencial dos grãos orgânicos”.
No que diz respeito à soja, o mercado orgânico americano é ainda mais incipiente. A produção ficou em 8,2 milhões de bushels em 2020/21 (alta de 9,2% ante 2019/20), e 92% do mercado foi abastecido por importações de farelo, principalmente da Índia. “O produtor americano tem historicamente sua rentabilidade com o milho e usa a soja apenas como rotação de cultura. Isso não muda no mercado de orgânicos”, explicou Garcia.
A novidade que pode impulsionar o mercado de soja são as restrições impostas pelo governo americano à Índia no fim deste ano. “O Departamento de Comércio americano impôs taxas de importação para a soja orgânica da Índia de 250% após descobrir subsídios não autorizados pela OMC no país. Isso fez disparar o preço do grão no mercado”.
Em setembro de 2021, o valor estava em US$ 32,70 o bushel, ante um histórico de US$ 20 o bushel para o mês desde 2016. O farelo, que há um ano custava cerca de US$ 700 a tonelada, passou para US$ 1,5 mil. A soja é usada para produção de farelo e pela indústria de sucos orgânicos.