Aumento da demanda e dos custos de produção elevam cotações das proteínas que têm substituído a de gado na mesa dos brasileiros
O brasileiro que deixou de consumir carne bovina por causa do preço elevado e migrou para proteínas mais baratas deverá ter uma infeliz surpresa nos próximos meses. O aumento da demanda por ovos e carnes de frango e suína e também a dos custos de produção tendem a impulsionar as cotações desses alimentos nos próximos meses.
O presidente do Grupo Mantiqueira, Leandro Pinto, estima que os preços dos ovos poderão subir de 15% a 20% nos próximos 12 meses. O executivo, que comanda a maior produtora de ovos da América do Sul, ressalta que os valores do milho e do farelo de soja subiram fortemente e criaram um quadro delicado para a cadeia produtiva.
Segundo Juliana Ferraz, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), no caso das carnes suína e de frango, é difícil projetar os preços futuros porque o mercado é bastante dinâmico. Ela concorda, no entanto, que a tendência é de cotações elevadas, acima dos patamares de antes da pandemia.
A carne bovina, por sua vez, poderá continuar a perder espaço no prato do brasileiro. A redução da oferta de gado encareceu a proteína, que muitas famílias deixaram de consumir por causa de sua perda de poder aquisitivo.
No atacado paulista, os preços médios dos cortes do dianteiro bovino, como acém e cupim, subiram 82% entre setembro de 2019 e o mês passado, segundo a Scot Consultoria, enquanto a carne do quarto traseiro, como filé mignon e picanha, ficou 53% mais cara nesse intervalo. No varejo, os acréscimos foram de 59% e 32%, respectivamente, o que demonstra que os ajustes nas gôndolas foram limitados pela demanda mais fraca.
Já no caso das carnes suína e de frango, a demanda está em expansão. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), neste ano, o consumo per capita desses itens deverá crescer 5% e 1,5% em relação ao ano passado, respectivamente.
Mas isso não significa que as proteínas mais acessíveis também não estão se valorizando. No mesmo período de comparação, os dados da Scot Consultoria apontam que a carcaça suína especial subiu 41% no atacado e o frango inteiro, 93%. Já no varejo, a cotação da proteína da ave avançou 80% e os cortes do suíno subiram de 36% a 67%. Com custos de produção mais altos, a indústria pressiona por novos repasses ao consumidor.
O presidente da ABPA, Ricardo Santin, acredita que, de modo geral, a continuidade do auxílio emergencial ou a criação de um novo programa de transferência de renda tendem a sustentar o consumo das carnes de frango e suína. O executivo também aposta em demanda internacional firme, com o plantel chinês de suínos ainda em recomposição.
Diretor de mercados da entidade, Luís Rua lembra que a China produzia 54 milhões de toneladas de carne suína antes do surto de peste suína africana, em 2018. Agora, a produção local gira em torno de 42 milhões a 44 milhões de toneladas. “Quando eles conseguirem retomar esse nível produtivo, mais pessoas terão entrado na linha de consumo”, diz.
O consumo de ovos também vem aumentando ano a ano, segundo a ABPA, e deve chegar a 255 unidades por pessoa em 2021, número 1,6% maior que o do ano anterior. Juliana Ferraz, do Cepea, lembra que o ovo vem se tornando a principal opção de proteína para muitas famílias pobres.