A retirada temporária das tarifas de importação deverá ter efeito limitado sobre os preços internos de alimentos, como carnes bovina e de frango, milho e farinha de trigo. Já adotada em ocasiões recentes, a desoneração não tem poder para gerar um salto nas compras externas desses produtos a ponto de afetar a rentabilidade e de tirar a tranquilidade dos produtores nacionais de grãos e proteínas.
A Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo) espera que a isenção na importação do cereal ajude a equilibrar o mercado, desorganizado devido à guerra entre Rússia e Ucrânia. Anualmente, uma cota de 750 mil toneladas já tem a entrada isenta no país. Agora, todo o volume importado em 2022 terá a tarifa zerada a pedido da entidade.
O Brasil deve importar 6 milhões de toneladas de trigo neste ano, mas grande parte vem da Argentina, cuja operação já é isenta. A desoneração da TEC, no entanto, abre possibilidades para buscar o produto em outras partes do mundo em momento de competição acirrada. “Temos que buscar o trigo. A competição está muito forte no mundo todo, até o Brasil está exportando trigo. Precisamos buscar no Canadá, nos Estados Unidos, na Europa”, disse ao Valor o embaixador Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo.
“Não é uma questão de abastecimento, tem trigo sobrando, mas o preço está alto”, acrescentou. O país importa 60% do trigo que consome. O executivo disse que a medida vai ajudar a conter a “alta brutal“ do trigo no mercado mundial e será benéfica aos importadores brasileiros. “Isso ajuda a diminuir a carga do preço sobre os moinhos. Esses 9% da tarifa seriam acrescidos ao preço internacional, que já é elevado.”
Segundo o embaixador, os moinhos brasileiros são competitivos e não se opõem à isenção aprovada para a importação de farinha de trigo. Mas há dúvida se o preço dos produtos como o pão francês aos consumidores finais vai diminuir. “Vai depender das panificadoras e empresas de massas e biscoitos.”
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) disse que sempre defendeu o livre-comércio e que recebeu com tranquilidade a informação sobre a suspensão da cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) para produtos como miúdos e pedaços de carnes de frango. A entidade alertou, porém, que a alta dos preços das carnes de aves se deve ao “repasse inevitável” do aumento do custo com insumos ao longo da cadeia, como milho, soja e diesel, além do quadro de baixa oferta mundial desses alimentos, questões que “demandam ações imediatas por parte do governo”.
O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, entende a “decisão política tomada” pelo governo de estender até o fim do ano a isenção para importação do cereal. Segundo ele, a medida – que já estava em vigor – não surtiu efeito sobre os preços internos antes e não deverá impactar agora. Ele aproveitou para cobrar mais incentivos para ampliação da produção nacional do grão.
Para o economista-chefe da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, os efeitos da retirada da TEC serão “muito pequenos” ou nulos. “Eu duvido que encontrem alimentos mais baratos fora do Brasil”, disse.
Já a redução do imposto para importação do Mancozebe, fungicida mais utilizado nas lavouras do país, pode gerar algum alívio nos custos de produção. Em 2020, foram vendidas 50,5 mil toneladas do defensivo. Silvia Fagnani, sócia-diretora da ThinkBrasil Diplomacia Corporativa, disse que a medida deve garantir maior produção no Brasil do defensivo formulado a partir do Mancozebe e maior competitividade para produtos técnicos fabricados em países sem acordo comercial com o Brasil, como a Índia. “É uma medida paliativa importante para entendermos como o mercado reagirá”, disse.