O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta sexta-feira (13/1), a nota “Inflação de Alimentos: como se comportaram os preços em 2022”, que analisa o grupo alimentação e bebidas, destacando a alimentação no domicílio, do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA fechou o ano com alta de 5,8%, sendo que o grupo alimentação e bebidas respondeu por quase metade desse resultado, o que reflete a volatilidade e o grau de importância do grupo na cesta de consumo da população do país.
Dos nove grupos de produtos e serviços comercializados no varejo que compõem o IPCA, o grupo alimentação e bebidas foi o que apresentou maior peso na composição do índice agregado (21,9%) em 2022. A alimentação no domicílio registrou alta de 13,2% no período, uma contribuição de 1,96 ponto percentual (p.p.) na variação do IPCA geral. Por sua vez, a alimentação fora do domicílio teve 7,5% de variação acumulada, e contribuiu com 0,42 p.p. na variação do IPCA geral.
Para o coordenador de Crescimento e Desenvolvimento Econômico na Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac), José Ronaldo Souza Júnior diversos fatores podem explicar o comportamento desses preços. Segundo ele, “fenômenos climáticos adversos e altas de custos afetaram negativamente importantes culturas ano passado, fatores que, somados aos impactos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia sobre produtos como o trigo, podem explicar em grande parte o comportamento dos preços dos alimentos em 2022”.
Na análise de todos os itens da alimentação no domicílio, leites e derivados foi o único que teve peso alto (12,4%) e alta variação em 2022 (22,1%). De acordo com o pesquisador associado na Dimac Diego Ferreira, “leites e derivados foi o item que mais contribuiu com a inflação de alimentos, devido à restrição na oferta de leite, à elevação dos custos de produção, ao efeito do fenômeno La Niña sobre a disponibilidade de pastagens e à redução dos investimentos no setor. Tudo isso contribuiu para a queda no potencial de produção leiteira”.
Ana Cecília Kreter, pesquisadora associada na Dimac, analisou o preço das proteínas animais. “Embora o item carnes seja o de maior peso na composição do índice de preços ao consumidor (17,8%), sua contribuição para a inflação de alimentos em 2022 foi de apenas 0,49 p.p., resultado mais modesto que em 2021, quando o preço das carnes subiu 8,5% e sua contribuição foi de 1,66 p.p.”, disse Kreter.
Outro dado importante diz respeito aos itens frutas e tubérculos, raízes e legumes que, apesar de terem apresentado pesos moderados no IPCA – alimentação no domicílio em 2022 – 7,1% para as frutas, e 5,6% para os tubérculos, raízes e legumes –, fecharam o ano com alta expressiva de preços – 24,0% e 40,2%, respectivamente.
A equipe do Ipea calculou o índice de difusão da inflação dos alimentos (que mostra o percentual de produtos com reajuste positivo de preços por mês), tomando como base os 159 produtos analisados pelo IBGE no âmbito da alimentação domiciliar. Os pesquisadores concluíram que, ao longo de 2022, a quantidade desses produtos que incorreram em reajustes positivos não só sofreu queda, como a participação de produtos com contribuição inflacionária alta caiu.
O especialista em políticas públicas e gestão governamental, Fabio Servo, aponta para um cenário positivo em 2023. “Olhando a trajetória de 2022, o ano se encerrou com inflação de alimentos mais baixa frente aos meses anteriores, apesar da alta no último trimestre. Esse resultado foi reflexo da desaceleração nos preços dos principais itens da alimentação”. Diante de um contexto de boa estimativa para a produção em 2023, Servo conclui que “o aumento na oferta de alimentos poderá contribuir para uma inflação mais baixa neste ano”.
A nota conta ainda com a participação de outros dois autores, além dos citados acima: Antônio Carlos Simões Florido, pesquisador associado da Dimac, e Guilherme Soria Bastos Filho, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.