Segundo a Conab, o país produzirá, no total, 254 milhões de toneladas de grãos, 1,2% menos que em 2019/20
Pela primeira vez desde o início do plantio da safra 2020/21, em setembro do ano passado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que a produção total de grãos do país no ciclo 2020/21 será inferior à de 2019/20. E a culpa é de condições climáticas desfavoráveis, que golpearam sobretudo a segunda safra de milho.
Em seu 11º relatório sobre 2020/21, divulgado ontem, a estatal calculou que o país produzirá, no total, 254 milhões de toneladas de grãos, 1,2% menos que em 2019/20 e volume 2,6% inferior ao projetado no mês passado. Se confirmada, será a quarta redução desde 2008/09.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou também ontem um novo levantamento, o volume consolidado chegará a 256,1 milhões de toneladas, queda de 0,9% em relação à estimativa do mês passado, mas ainda um aumento de 0,8% na comparação com a colheita de 2020.
“Apesar de ter havido aumento de área plantada em mais de 4%, a redução [da colheita total de grãos] se deve, principalmente, à queda das produtividades estimadas nas culturas de segunda safra, justificada pelos danos causados pela seca prolongada nas principais regiões produtoras, bem como às baixas temperaturas com eventos de geadas ocorridas nos estados da região Centro-Sul do país”, disse a Conab em seu estudo.
A estimativa da Conab para a produção de milho de inverno foi reduzida em 9,9%, para 60,32 milhões de toneladas, 19,6% menos que na temporada passada. A produtividade passou a ser estimada em 4.065 quilos por hectare, em queda de 25,7%. Para o IBGE, a safrinha agora alcançará 65,2 milhões de toneladas, com baixas de 5,9% ante a estimativa anterior e de 15% em relação a 2020.
“A redução só não foi maior porque os altos preços do grão impulsionaram um aumento de área plantada de 8,1%, para 14,87 milhões de hectares”, disse a Conab. “Além disso, Mato Grosso, principal Estado produtor, foi o que menos registrou condições climáticas adversas durante o cultivo”. No Paraná, segundo o IBGE, a quebra foi de quase 38%.
Segundo a Conab, com a primeira safra de milho já finalizada em 24,9 milhões de toneladas e a terceira estimada em 1,4 milhão, a produção total do cereal em 2020/21 deverá chegar a 86,7 milhões de toneladas, 15,5% menos que no ciclo passado. Essa retração tem ajudado a manter os preços do produto elevados no país, com reflexos negativos sobre as margens da indústria de aves e suínos e sobre a inflação dos alimentos.
A seca também pode afetar a terceira safra de feijão de 2020/21, que está sendo semeada. A Conab estimou que o volume cairá 11,1% em relação a 2019/20, para 715,3 mil toneladas. A produção total de feijão, com isso, foi revista para 2,94 milhões de toneladas, 8,8% menos que na safra 2019/20, também impactada pela seca nos principais polos.
Dentre as culturas de inverno, outro destaque – este, positivo – é o trigo. Na atual safra, a expectativa é que a produção chegue a 8,6 milhões de toneladas, um recorde. Com o plantio já encerrado, houve expressivo aumento na área – de 15,1%, para 2,7 milhões de hectares -, reflexo dos altos preços no mercado internacional nos últimos anos.
Aliados à valorização externa, os preços elevados do milho no cenário nacional também incentivaram o cultivo do trigo, que pode ser usado com alternativa na nutrição animal. No entanto, as condições climáticas ainda podem influenciar os resultados. As consequências das geadas registradas nas principais regiões produtoras nas últimas semanas ainda serão quantificadas pela Conab.
Com a colheita encerrada, a soja confirmou as expectativas e apresentou uma elevação de 11,1 milhões de toneladas na produção desta safra. O Brasil é o maior produtor mundial da oleaginosa, e teve colheita recorde de 135,9 milhões de toneladas em 2020/21, conforme a Conab. Segundo o IBGE, o aumento foi de 9,8%, para 133,4 milhões.