O sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma estratégia de produção que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais em uma mesma área. O objetivo desse sistema é permitir a intensificação do uso do solo durante todo o ano de forma sustentável, buscando otimizar os ciclos biológicos de plantas e animais.
“Mais do que uma tecnologia, essa modalidade envolve sistemas produtivos e boas práticas agrícolas. Ela preconiza a incorporação de práticas de conservação de solo e água e de rotação de culturas, além do uso adequado de defensivos agrícolas”, explicou o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio Ambiente Ladislau Araújo Skorupa.
Segundo o pesquisador, por contemplar até três diferentes componentes (lavoura, pecuária e floresta), o sistema proporciona a diversificação da produção na propriedade, o que pode incluir grãos, silagem, leite, carne, madeira, frutas, entre outros. “Isso também reflete na redução de riscos para o produtor, uma vez que uma atividade pode compensar eventuais imprevistos de uma outra”, afirmou o pesquisador.
A sustentabilidade é outro benefício dessa estratégia de produção. “O sistema também pode ser um provedor de serviços ecossistêmicos, como na proteção e conservação do solo e água e na melhoria da paisagem. Além disso, pode mitigar os gases de efeito estufa com o carbono fixado na matéria orgânica do solo ou nos troncos das árvores”, pontuou Ladislau.
O pesquisador explica que há quatro possíveis modalidades:
• Integração Lavoura-Pecuária (Agropastoril): integra os componentes lavoura e pecuária em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. Isso pode acontecer em um mesmo ano ou em vários anos agrícolas.
• Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (Agrossilvipastoril): incorpora a lavoura, pecuária e floresta em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área.
• Integração Pecuária-Floresta (Silvipastoril): envolve a pecuária e floresta em consórcio.
• Integração Lavoura-Floresta (Silviagrícola): engloba a lavoura e floresta pela consorciação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas.
Segundo o pesquisador, estima-se que o Brasil possua atualmente cerca de 17 milhões de hectares ocupados com sistemas ILPF. “As políticas públicas são importantes para ampliar essa modalidade no país. No Brasil, há o Plano ABC+, que incentiva, entre outros processos tecnológicos, a ampliação da adoção dos sistemas ILPF. A meta, segundo o Plano, é ampliarmos em 10 milhões de hectares a área até 2030”, disse o pesquisador.
O pesquisador ainda destaca que “um dos aspectos importantes decorrentes da adoção em larga escala do sistema ILPF é a redução da pressão pela abertura de novas áreas para agricultura e pecuária, especialmente via desmatamento. Ações de transferência de tecnologia são peças-chave no processo de adoção de sistemas ILPF, promovendo ajustes nos sistemas já existentes de forma a maximizar as interações entre os componentes”.
CERTIFICAÇÕES
De acordo com Ladislau, no caso da pecuária, há certificações voluntárias que podem ser fornecidas pela própria Embrapa, como a Carne Carbono Neutro (CCN) e a Carne Baixo Carbono (CBC). “A Carne Carbono Neutro (CCN) é produzida em sistemas silvipastoril ou agrossilvipastoril que contemplam o componente florestal, o qual é responsável pelo sequestro de carbono, possibilitando a neutralização da emissão de metano pelos animais, além de proporcionar conforto térmico pelo sombreamento das pastagens. Já a Carne de Baixo Carbono (CBC) é produzida em sistemas lavoura-pecuária, onde o manejo adequado do pasto proporciona o sequestro de carbono no solo, mitigando as emissões dos animais”, concluiu.