Redes querem verificar o que é impacto aceitável nos reajustes dos alimentos, alegado pelos fabricantes, e o que não é justificável
Os supermercados contrataram a Fundação Instituto de Administração (FIA) para fornecer dados às empresas nas negociações envolvendo aumentos de preços das indústrias, disse ontem a Abras, entidade do setor. Querem verificar o que é impacto aceitável, alegado pelos fabricantes, e o que não é justificável. A ideia é que o setor, com mais informações, consiga se antecipar a movimentos, e possa evitar aumento abusivo de preços.
É uma estratégia num momento em que negociações envolvendo reajustes em alimentos, como óleo, arroz e carnes, já ultrapassam um ano, por conta da crise gerada pela pandemia. Ontem, a Abras informou que as lojas aumentaram a busca por marcas concorrentes que rivalizam com os líderes.
“Queremos que os supermercados conheçam melhor o processo produtivo e se antecipem a movimentos que possam levar a aumentos abusivos de preço e para melhorar o consumo das famílias”, disse ontem Marcio Milan, vice-presidente da Abras, ao anunciar a iniciativa junto à FIA.
Uma análise já foi entregue pela fundação, relativa ao arroz, e os dados mostram concentração de venda para mercado interno e produção mais localizada no Sul. No material, os supermercados foram informados de que o aumento no custo de produção do arroz e no preço de combustíveis não são capazes de explicar a alta nos preços do setor.
Em 12 meses, o quilo do arroz subiu 39,8% nas lojas, segundo a associação. Outros estudos para reforçar o volume de dados devem ser feitos com óleo, carne bovina e suína, ovos, leite, milho e trigo. Em julho, o custo dos 35 produtos mais vendidos em supermercados subiu 0,96% sobre junho – sobre julho, a alta foi de 23,14%.
Nos últimos meses, varejo e indústria já enfrentaram alguns embates. Em setembro de 2020, a Abras informou a Senacon, a secretaria nacional do consumidor, ligada ao Ministério da Justiça, sobre a “forte pressão” por aumentos por parte da indústria. A Abia, associação dos fabricantes de alimentos, reagiu alegando existência de quebra de safras e alta demanda global. O trabalho da Abras está exatamente em entender a cadeia de cada produto, para levantar aspectos que julgar improcedentes.
A Abras ainda disse ontem que aumentaram as ofertas de marcas nas gôndolas, segundo levantamento iniciado neste ano. “Há produtos com até dez opções de marca hoje. Em leite, há até sete. No arroz, eram 6 a 7 [em média antes da crise] e hoje são de 9 a 12 marcas”.
Os aumentos nas ofertas de marcas envolvem discussões comerciais entre varejo e indústria. É que espaço e local de exposição fazem parte de acordos e incentivos de venda dados às lojas. Quando a loja põe novas marcas nas prateleiras, isso envolve renegociar certas condições com marcas líderes, até porque há espaços limitados. Sobre esse ponto, Milan não quis comentar. “Isso é algo que cabe a cada rede negociar”, disse.
A projeção da Abras ainda é de um aumento de 4,5% nas vendas, em termos reais, em 2021. Para a Milan, o auxílio emergencial, mesmo menor em 2021, as restituições de Imposto de Renda, e a demanda em datas como Black Friday e Natal justificam expectativas mais otimistas. Especialistas lembram que mesmo com o “coronavoucher” e as restituições, tem ocorrido uma desaceleração no ritmo de vendas, reflexo da queda de renda e desemprego ainda elevado.
Até junho, a expansão acumulada nas vendas era de 4% e a taxa caiu para 3,24% de janeiro a julho – até março, subia 7,5%. Milan disse que se esse desaquecimento continuar, a entidade pode rever a projeção do ano, numa análise a ser feita em setembro. Em julho, as vendas do setor caíram 1,15% sobre o mesmo mês de 2020, quando a demanda estava acelerada.
A Abras ainda reforçou que não vê efeito da crise hídrica e da paralisação dos caminhoneiros na oferta e nos preços nas lojas.