Empresa não só gerou caixa suficiente para bancar o investimento na BRF como propôs adiantar dividendo
Marcos Molina não dá ponto sem nó. Depois de gastar US$ 1,2 bilhão numa tacada que surpreendeu o mercado pela velocidade – a Marfrig montou uma posição de 31,6% na BRF em praticamente três semanas -, a companhia liderada pelo empresário mostrou ontem por que tinha tanta bala na agulha.
A Marfrig não só gerou caixa suficiente para bancar o investimento na dona da Sadia como está propondo adiantar um dividendo de R$ 958,4 milhões, um yield de quase 7% naquele que promete ser o ano de maior pagamento de proventos aos acionistas já feito pelo grupo.
A companhia também está lançando um novo programa de recompra de até 23 milhões de ações – o equivalente a R$ 448,9 milhões -, válido por um ano e meio, e cancelando 20 milhões de ações em tesouraria, num indicativo de que o management acredita que os papéis estão subvalorizados mesmo com uma alta de 36,8% no ano. Na B3, a Marfrig vale R$ 13,9 bilhões.
A responsável pela façanha continua sendo a National Beef, negócio americano de carne bovina que vem gerando caixa a ponto de diluir o estrago causado pela disparada do boi gordo no Brasil, onde as margens da Marfrig continuaram a se deteriorar no segundo trimestre.
No balanço divulgado ontem, o grupo brasileiro teve um fluxo de caixa livre de R$ 2,2 bilhões um lucro líquido de R$ 1,7 bilhão no segundo trimestre, um aumento de 9% na comparação anual.
A última linha do balanço bateu o consenso de mercado da Bloomberg, de R$ 1,2 bilhão. O Ebitda trimestral somou R$ 3,9 bilhões – queda de 3,6%, por causa da piora do negócio no Brasil -, mas acima dos R$ 3 bilhões que os analistas previam.
A National Beef vem conseguindo sustentar um nível de margem que parecia anormal de tão alta para os padrões pré-pandemia, um cenário que também ajuda as concorrentes Tyson e JBS USA. Quando a National Beef alcançou 24% de margem Ebitda no segundo trimestre de 2020, parecia um evento fora da curva, reflexo do fechamento de vários frigoríficos nos EUA – as indústrias americanas foram um foco de disseminação de covid-19 -, levando a uma disparada no preço da carne.
Mas, beneficiada por uma combinação de ampla oferta de gado nos EUA, demanda aquecida pela barbecue season e alta de 30% no preço de exportação da carne americana, a National Beef entregou agora uma margem Ebitda de 24,3%, um novo recorde.
“Com os restaurantes reabrindo nos EUA, vimos o food service melhorando dramaticamente”, disse o CEO da National Beef, Tim Klein, ao Pipeline. De acordo com ele, o estoque de gado que deixou de ser abatido no ano passado, quando muitos frigoríficos estavam fechados, continua beneficiando o grupo.
Na América do Sul, o custo do gado no Brasil e as dificuldades logísticas cobraram um preço alto. A margem Ebitda da operação sul-americana ficou em apenas 3,6% no segundo trimestre, uma queda de 10 pontos na comparação anual. Segundo Miguel Gularte, CEO da Marfrig, a escassez de contêineres atrasou exportações, tirando dois pontos percentuais do Ebitda da companhia e aumentando os estoques em R$ 700 milhões.
Apesar disso, o pior parece estar ficando para trás, e a tendência é de recuperação de margens nos próximos trimestres na América do Sul, que só responde por 24% do faturamento. Como um todo, a receita líquida da Marfrig alcançou R$ 20,5 bilhões no segundo trimestre.
Na estrutura de capital, a compra da participação na BRF não foi capaz de causar grandes impactos na alavancagem. Por ser um investimento passivo, a Marfrig trata o aporte como um ativo equivalente a caixa, o que faria com o índice de alavancagem ficasse até menor no segundo trimestre (em 1,45 vez, ante 1,7 vez em março). Considerando o investimento na dona da Sadia, o indicador ficaria em 1,97 vez